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Sociedade

25 de Abril: “Este dia vai ser lembrado com ternura e tristeza”  

“A Liberdade que os capitães trouxeram, o coronavírus tirou”, disse José Manuel Silva, ex professor e diretor na Escola Superior de Educação e Ciências Socias de Leiria.

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Foto: Pedro Carvalheiro

“Nesta luta somos todos Capitães de Abril,” disse Gonçalo Lopes, presidente da autarquia leiriense, na tarde do passado sábado, dia 25 de Abril, nas comemorações do 46º ano do “Dia da Liberdade.”

Durante a programação digital, o Notícias de Leiria passou pela cidade, e perguntou aos que já saíram à rua como foi sentida a Liberdade.

“Já chorei hoje. Nunca passei por isto”.

Lurdes Miguel 25 abril

Foto: Pedro Carvalheiro

“Está tudo fechado é uma tristeza. Estou deprimida. Já chorei hoje. Nunca passei por isto. Isto toca-me muito, tenho medo de sair à rua, sabe, já tenho 72 anos,” disse Lurdes Miguel, sentada, ao lado de uma vizinha, num dos bancos, junto ao rio, na ponte dos caniços em Leiria.

A morar ao lado do rio, naquela zona, Lurdes Miguel avançou ainda ao Notícias de Leiria que “este dia vai ser lembrado com ternura e tristeza.” “Estou triste, porque estou em Portugal só há quatro meses e gosto de andar na rua e agora não posso,” desabafou, perto das duas senhoras, Lailó Salirh, de 42 anos, do Uzbequistão, a viver há quatro meses em Leiria.

Enquanto falávamos e fotografávamos, ali perto, na Urbanização Encosta, junto à rotunda, ouvia-se música que vinha dos prédios.

Polis vedado

Foto: Pedro Carvalheiro

O som era alto, vinha de uma varanda de um quarto ou quinto andar, e ouvia-se a centenas de metros. Já no rés do chão do prédio, um senhor a atender ao balcão, disse-nos que, “devido à pandemia, o café está agora aberto em take away, e só vende águas, cafés e sumos. Não vendemos bebidas alcoólicas” disse o senhor.

Os clientes estavam a consumir na rua, à entrada do estabelecimento. Naquela zona, o percurso Polis encontrava-se fechado com fitas da polícia, e o parque infantil vazio. Eram várias as pessoas que por ali caminhavam e ignoravam as fitas de proteção, algumas já caídas.

O chamamento foi marcado, a nível nacional para as 15h00 do 25 de Abril, “das varandas e janelas a cantar Vila Morena,” e teve fraca adesão em Leiria. Durante os três ou quatro minutos que durou o cântico, percorremos as avenidas Heróis de Angola e 25 de Abril.

Jardim-Luis-Camoes-Vedado-Covid-19

Foto: Pedro Carvalheiro

As varandas estavam vazias de gente. Não vimos ninguém. No centro da cidade, junto ao jardim Luís de Camões, já por ali andavam algumas pessoas a caminhar. Também no Jardim da Almuinha Grande, e apesar da interdição do percurso Polis, e mesmo com o mau cheiro das águas turvas do lago e do ribeiro, havia gente, de bicicleta, a pé ou a passear o cão.

Tanto, nos jardins e parques da cidade, como no Polis, eram visíveis em alguns locais, as fitas de segurança caídas no chão. Quer no café, nas bombas de gasolina, ou no centro da cidade, não havia casas de banho públicas abertas.

“Eles não sabem que o sonho, o sonho comanda a vida.” Vazio, sem ninguém nas cadeiras, o Teatro José Lúcio da Silva, recebeu, no espaço da “Programação Digital – Abril a uma Voz, a de todos Nós,” o eterno tema que terminou a atuação de Manuel Freire, na noite de sexta feira dia 24, no âmbito do programa digital para todas as idades.

O programa teve início nesse dia, às 17h, com uma “Assembleia Municipal” e fim na noite do dia seguinte, “25 de Abril,” com a peça “À volta da Liberdade”, programa onde foi abordada a Liberdade, a censura, formas de Liberdade e “Ecos da Liberdade” em Leiria.

Pelo meio houve ainda lugar, no vasto programa, a um tributo a Zeca Afonso e à peça “Vocês sabem o que é a Liberdade” onde foram recitados poemas de José Jorge Letria, tudo transmitido na página do Facebook do município.

Na sua mensagem, Gonçalo Lopes, referiu ainda que, “o 25 de Abril, é uma festa de rua, de partilha e de união. Tal como em 1974, estamos a lutar contra um inimigo, que nos tolhe a ação, mas não o nosso pensamento. Estamos confinados, mas com a obrigação de evocar a festa da Liberdade. É a uma oportunidade de fazermos uma reflexão sobre, o Portugal que somos, e o Portugal que queremos ser.

“A Liberdade que os capitães trouxeram, o coronavírus tirou”.

Contactado pelo Notícias de Leiria, para José Manuel Silva, ex professor e diretor na Escola Superior de Educação e Ciências Socias de Leiria (ESECS), e do IPLeiria, “a Liberdade que os capitães trouxeram, o coronavírus tirou. Parece paradoxal, mas é a realidade. Este vírus colocou o mundo perante desafios impensáveis e as Liberdades, de repente, foram restringidas e vão demorar tempo a serem restauradas. Há hoje receio que alguns estados se aproveitem para as restringirem ainda mais, sob o manto da defesa da saúde pública. Acreditemos que o mundo vai ficar melhor que antes.”

Sobre Leiria, o professor adiantou que “como em todo o país, o dia vai ser lembrado como mais um dia de confinamento, e que todos vamos associar à ideia de Liberdade, marca fundamental desta comemoração, a limitação dela. Para os mais novos, como uma boa reflexão, para o que já foi habitar um país, em “confinamento político,” sem liberdade de associação, expressão, com a polícia política a perseguir opositores e uma guerra colonial sem sentido nem propósito.”

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