Opinião
Certamente ficará tudo bem
“Aplausos às janelas e varandas, cânticos uníssonos do hino nacional, folhas, cartolinas ou mesmo tecidos coloridos com a expressão ‘vai ficar tudo bem’ vão mantendo as hostes confiantes nesta batalha.”

Sem efeito de novidade até para o cidadão comum, alheado muitas vezes da atualidade, o Covid-19 assume nos dias de hoje uma posição central na discussão da opinião publica, bem como as suas consequências no futuro. A certeza de um passado em vão, um presente de esperança e um futuro agridoce, disputa até no mais puro agnóstico um sentimento de fé em face da presente calamidade.
No passado, fomos convidados a ir à antestreia de um trailer onde um prisma economicamente risonho cumpria a função de mero figurino. No papel de cenógrafo, a Ministra da Agricultura contemplou nas suas palavras a certeza de que o coronavírus traria “consequências bastante positivas para a nossa economia”.
Nos camarins e no papel de maquilhadora, de salientar os traços disruptivos da Diretora-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas, com fantásticos efeitos de “Não há grande probabilidade de chegar um vírus destes a Portugal” ou “a transmissão facilmente de uma pessoa para a outra, não é o caso deste novo coronavirus” ou até mesmo de “fraquíssima possibilidade de se transmitir” faz deste um exemplo prefeito para o estudo na área das belas-artes. Já na sonoplastia e não menos importante, Marta Temido. A Ministra da Saúde, que fez soar tarde o som de alerta, atuando passividade na gestão da mesa de mistura, perante uma realidade inevitavelmente galopante, corroborou o não uso de máscaras protetoras.
Na senda do presente, a esperança é avivada pela generalidade da sociedade apesar de, a espaços, sofrer alguns abalos. Aplausos às janelas e varandas, cânticos uníssonos do hino nacional, folhas, cartolinas ou mesmo tecidos coloridos com a expressão “vai ficar tudo bem” vão mantendo as hostes confiantes nesta batalha.
Os mais jovens, caracteristicamente irreverentes, foram quem após o encerramento das escolas assumiram e corrigiram o seu erro de peregrinação massiva para as praias. O Instituto Politécnico de Leiria (IPL), muitas vezes sufocado pelos garrotes financeiros do último executivo, embandeira firmemente essa mudança. Fez da sua massa critica um activo incondicional tendo como exemplo o protótipo de ventilador criado pela sua academia em parceria com o Politécnico de Viseu. Com um sentido cívico exemplar tem em particular os 20 jovens da Escola Superior de Saúde de Leiria que, apesar de verem os seus estágios interrompidos, e assim mergulhados num mar de incertezas, colaboram neste momento como voluntários na frente de combate ao Covid-19 no recém-criado centro de rasteio no Estádio Municipal de Leiria.
Aos mais velhos, a quem tipicamente atribuímos a premissa do exemplo, vimos desvanecer essa condição. Perante o aglomerado ocorrido no circuito Polis em Leiria, foram tomadas medidas, e bem, tendo em vista o seu encerramento. Por sua vez, o tecido empresarial da nossa região, reconhecido motor da economia nacional, estando dotado de trabalhadores com elevado grau de profissionalismo, tem dado uma resposta pujante e arrojada no combate a esta pandemia.
A gratidão para com todos aqueles que de forma direta ou indireta colaboram no combate a este vírus, transformou sonhos em realidade. São exemplos os movimentos “Por Portugal, todos unidos na Região de Leiria” onde o IPL uniu esforços com empresas locais, o “Movimento Maker Portugal” fundado por Bruno Horta residente em Leiria, que demonstra para além do espírito empreendedor que corre nas veias dos habitantes da nossa região, o verdadeiro sentido de solidariedade e responsabilidade à luz desta missão. A produção de materiais de proteção individual, como viseiras, máscaras e roupas de proteção médica, que os nossos empresários e trabalhadores fazem chegar à linha da frente, são o singelo gesto de agradecimento pelos esforços incansáveis. Desta forma, para uns surge a possibilidade de tentar iludir garantindo que não falta nada nos nossos hospitais, e para outros que constatam a realidade no terreno, faz sentir verdadeiramente que sem muitos destes apoios certamente o combate seria muito mais doloroso.
Em suma, o futuro depende do cumprimento do dever obrigatório de quarentena. Para além dos alargamentos sucessivos do Estado de Emergência urge de forma premente a clarificação do regime de lay-off evitando efetivos despedimentos e respetivos encerramentos de empresas. Para a nossa região, sem apoios municipais do ponto de vista fiscal, que no concelho de Leiria são já pouco competitivos face a territórios limítrofes, bem como um verdadeiro pacote estatal de incentivos para as micro, pequenas e médias empresas, com empréstimos a fundo perdido e apoios para as IPSS sem perda das suas prestações, será por certo mais um desafio hercúleo para as nossas gentes. Salvaguardas as empresas e os empregos, serão um custo no presente que significará poupança em prestações sociais no futuro. Com a certeza que será uma alegria vencer esta pandemia, a amargura de vislumbrar o reviver de uma crise social avassaladora deixa em nós um sentimento agridoce.
FIQUE EM CASA.
Por ti, por nós, por PORTUGAL!
#vaificartudobem
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O Notícias de Leiria convidou todos os partidos representados na Assembleia da República para a publicação de um artigo de opinião, da inteira responsabilidade do seu autor.
