Autárquicas 2021
Entrevista: “Toda a cidade está debaixo de interesses!” – Luís Paulo Fernandes
“Existem ideias, mas não há competência para as concretizar. Toda a cidade está debaixo de interesses! E existem inúmeros projetos que nem do papel saem”, considera o candidato à autarquia leiriense.

Luís Paulo Fernandes, tem 44 anos, é natural de Pedrógão Grande e é candidato à Câmara Municipal de Leiria pelo partido Chega, nas próximas eleições autárquicas.
Empresário de animação turística e diversões, foi membro da Assembleia Municipal de Pedrógão Grande, eleito como independente pelo PSD, acabando por renunciar ao mandato.
Em entrevista ao Notícias de Leiria faz um retrato daquilo que considera ser a atual situação da cidade: Uma autarquia que não limpa os rios para ocultar descargas, sem coragem para instalar uma conduta na baixa da cidade, com concursos públicos marcados por derrapagens, governada por um presidente que nunca foi empresário e uma oposição inexistente.
Notícias de Leiria: Quais são as principais preocupações com a cidade de Leiria?
Luís Paulo Fernandes (Chega): A questão ambiental. O equilíbrio entre o ambiente e a sustentabilidade, principalmente nas suiniculturas.
É preciso muita coragem para resolver este problema que dura há décadas. Tudo o que é habitação, terrenos, etc. tem sido prejudicado. Há muitas empresas, como a Ambilis, a Recilis, todas acabadas em Lis, onde há muita coincidência de pessoas que se dizem responsáveis, que receberam milhares de euros em fundos, e não resolveram os problemas, tendo a conivência e a cumplicidade da Câmara de Leiria e Juntas de Freguesia.
Neste momento, foi anunciada a limpeza de rios [Rio Lis] e ribeiras [Milagres], apenas porque estamos em época de eleições. É uma vergonha!
Também a promessa da construção de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) foi enganar os leirienses. Os planos tinham de ter sido feitos e demoraram 12 anos, sempre para trás e para a frente. A solução passa pela construção imediata de duas ou três grandes centrais de armazenamento, já que a capacidade das lagoas e suiniculturas, quando chove, transbordam, situação agravada ainda nos meses em que não é permitido fazer espalhamentos. É simples: há uma coincidência de águas, de caudais, as lagoas transbordam e acontecem as descargas.
Hoje em dia os leirienses estão amarrados ao cheiro e às descargas. Já os empresários suinicultores têm o coração nas mãos com as inspeções constantes sem saberem, com rigor, que investimentos devem fazer a longo prazo, fruto das constantes mudanças.
Depois de falar com o Comando Territorial da PSP de Leiria fiquei a saber que não há um drone ou uma equipa SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente) que consiga identificar com exatidão o local de uma descarga. Porquê? Devido à conivência com a autarquia ao não fazer a limpeza das margens dos rios, no sentido de camuflar as descargas.
Além das descargas provindas das suiniculturas, há também descargas de esgotos domésticos, apesar do projeto aprovado pelo antigo presidente Raúl Castro para resolver a situação. Esta obra já deveria ter sido feita! Não houve coragem para rebentar a baixa da cidade para instalar uma conduta de outras dimensões e que se separasse, com exatidão, o que são esgotos domésticos e caudal do rio, com o objetivo de faturar metros cúbicos de tratamento.
Conhecemos os nomes! Há pessoas que estão na defesa dos animais, há pessoas que se dizem na defesa do ambiente e todos têm muita responsabilidade nesta situação.
Outra situação preocupante na cidade de Leiria prende-se com a existência de telhados em amianto no Destacamento de Intervenção da GNR de Leiria, no antigo Parque da antiga Junta Autónoma de Estradas. Não é admissível que estes profissionais estejam sujeitos a esta substância cancerígena. É uma vergonha que necessita de muita coragem!
Outro grande ponto negro a resolver, e muitas vezes já denunciado pela comunicação social, é a política das obras públicas na cidade. Há concursos públicos que ficam desertos, há derrapagens em quase todos os concursos públicos! Exemplos: derrapagens na reconstrução da Avenida Nossa Senhora de Fátima, o Mercado Municipal, os elevadores de acesso ao Castelo. Nós vamos identificar quem falhou, quem entregou obras para concursos públicos mal feitos, sem acautelar possíveis problemas.
São demasiadas situações que envergonham e deixam muitas suspeitas e desconfiança. Um mercado que já era para abrir há um ano, arranca com 3,5 e já vai quase nos 5 milhões de euros, assim como o elevador [do Castelo], que segundo o Vereador, tem problemas por uso excessivo, adjudicado a uma empresa que nunca tinha feito elevadores!
Recebemos muitas denúncias e estamos a recolher provas de que os empreiteiros são sempre os mesmo, recorrendo a empreiteiros com participações noutras sociedades públicas.
Repare, não há placas de obra! O presidente Gonçalo Lopes justificou que no Mercado Municipal não há uma placa devido às intempéries. Qual é o medo dele?
NL: Consegue identificar pontos de convergência com este executivo?
Luís Paulo Fernandes (Chega): É difícil, quando olho para um investimento em floreiras de 400 mil euros… e os bombeiros não têm auto escadas para socorrer pessoas num incêndio urbano, num 3º ou 4º andar.
A Rodoviária Nacional, no centro da cidade, é uma vergonha.
Existem ideias, mas não há competência para as concretizar. Toda a cidade está debaixo de interesses! E existem inúmeros projetos que nem do papel saem.
A nossa cidade está muito envelhecida, com fachadas de edifícios a cair. Quando as pessoas tentam alterar as fachadas ou fazer obras, ao colocarem um processo na Câmara quase desistem devido à burocracia. Nós vamos apoiar as pessoas e ajudá-las com as obras. A burocracia promove a corrupção. Vamos criar um gabinete de resolução para avançar com obras.
Outra falha deste executivo passa pela não preocupação com o bem estar dos imigrantes que têm chegado às centenas a Leiria. São aviões carregados! Faz-nos falta mão de obra, mas estes imigrantes estão a chegar em grande número e a sobrecarregar a nossa segurança social. Não basta inaugurar Centros Locais de Apoio à integração de Migrantes e dizer-lhes que já podem votar. É preciso saber de quantos precisamos e para que profissões.
NL: Contudo, limitar a entrada de migrantes no nosso país não é uma competência da autarquia.
Luís Paulo Fernandes (Chega): O presidente da Câmara [de Leiria] tem de falar com Lisboa ou com a Secretária de Estado das Comunidades. Neste momento, há muitas pessoas de outros países, durante o dia sem trabalhar, a passear pela cidade.
NL: Numa entrevista disse: “Não estou nos perfis cosmopolitas da cidade”. Que perfil é este e não receia que os leirienses não se identifiquem consigo?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Leiria tem um perfil cosmopolita como tem Lisboa ou o Porto.
No início, diversas pessoas aconselharam-me a colocar uma camisa e uma gravata e dar-me a conhecer à cidade. Mas eu acho que independentemente do aspeto físico de cada um, eu vou continuar a andar como me sinto bem, apostando mais em dar a conhecer aos leirienses as minhas ideias e na coragem e humildade das pessoas.
NL: No seu discurso, refere diversas vezes, sobre si, características como “humildade, idoneidade e verticalidade”. Considera que faltam aos seus adversários estes valores?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Não têm. O presidente da Câmara é cosmopolita. Nunca foi um empresário, um suinicultor ou um ambientalista. O próprio Raúl Castro virou-lhe as costas. Humildade é assumir os nossos erros. Vejo a oposição e o presidente da Câmara, a quem a população depositou os seus votos, mas que não tem coragem e falta-lhes verticalidade e idoneidade.
NL: O que seria um bom resultado no dia 26 de setembro?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Não tenho dúvidas que o PS não vai ganhar com maioria como ganhou nas últimas eleições e o PSD foi conivente, não tendo feito oposição. Um bom resultado passa por, ainda antes das eleições, ouvir as pessoas e receber as denúncias da população. Eu já estou a ser a oposição que Leiria nunca teve! É a minha missão, mas é preciso muita coragem.
Perguntas rápidas:
NL: Abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Concordo, mas sem gastar milhões e sem show off e com a garantia de que teremos companhias aéreas a aterrar em Monte Real. Não esquecer também a importância da ferrovia que continua esquecida e cheia de promessas.
NL: Aumento da videovigilância na cidade de Leiria?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Concordo, desde que o rio não esteja camuflado para que não se saiba o que as pessoas vão lá fazer. Acrescento a necessidade da criação de uma polícia municipal em Leiria, uma situação que estou a estudar.
NL: Suspensão da construção do Pavilhão Multiusos de Leiria?
Luís Paulo Fernandes (Chega): Esta era uma promessa do presidente Raul Castro, tal e qual como as obras de saneamento da baixa da cidade que ficou para trás. Vamos ser cidade europeia do desporto, já devíamos ter o pavilhão construído.
Há oito candidatos na corrida à presidência da Câmara de Leiria, que se mantém socialista desde 2009, quando o PS conquistou a capital de distrito ao PSD e, desde então, sempre a aumentar a votação em eleições autárquicas.
As próximas eleições autárquicas vão-se realizar no dia 26 de setembro.
