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#Eurobonds: Ou o início, ou o fim

“Repleto de compaixão, o Primeiro Ministro Holandês declara assim, que no combate ao COVID-19, a Holanda escolhe o genocídio geriátrico”.

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Opinião Notícias de Leiria
Foto: Notícias de Leiria

Há muito que se possa dizer sobre a UE, mas acima de tudo, parece-me razoável dizer: a União Europeia parece uma excelente ideia. Foi até agraciada com o Prémio Nobel da Paz em 2012 pelo seu papel na manutenção da paz, democracia e promoção dos direitos humanos na Europa por mais de seis décadas.

O problema das grandes ideias, costuma ser simples: ou são executadas por homens e mulheres de visão, ou são executadas por alemães e holandeses.

Nem tudo está bem no Reino de Bruxelas desde a sua resposta austera à crise financeira de 2007-08, na qual os governos salvaram os bancos da sua própria insensatez e mergulharam os seus povos na austeridade.

Apesar de um período longo, doloroso e repleto de sacríficios, os “PIGS” – Portugal, Itália, Grécia e Espanha, como nos acarinharam os nossos congéneres do Norte Europeu, conseguiram virar a página do modelo de austeridade que lhes foi imposto.

Portugal atingiu em 2019 o primeiro Superavit na história da sua democracia, a Espanha conseguiu diminuir o défice para menos de 3% (valor este, graciosa e arbitrariamente imposto pela Alemanha no Pacto de Estabilidade e Crescimento), a Grécia atingiu o Superavit em 2016 e a Irlanda em 2018.

Aquilo para que nenhum destes países se preparou, infelizmente, foi uma pandemia à escala global. Um erro atroz, pelo menos na visão calvinista do Ministro das Finanças Holandês.

Com uma sensbilidade pelo sofrimento humano claramente inspirada na escola de pensamento de Calígula, olhou para a crise humanitária que vivem a Espanha e Itália declarando que talvez o mais importante fosse “investigar porque certos países da UE não têm verbas suficientes para combater esta crise”.

Não querendo que as palavras do seu Ministro das Finanças pudessem ser mal interpretadas e vistas como um ato isolado de falta de empatia, o Primeiro Ministro Holandês reagiu à indignação do Sul Europeu, dois dias depois, afirmando que a Itália estava a ser irresponsável ao “internar os cidadãos mais velhos”.

Estes, pela sua idade, têm menos hipóteses de sobreviver e, como tal, devem ficar pacientemente em casa à espera de falecer. Repleto de compaixão, o Primeiro Ministro Holandês declara assim, que no combate ao COVID-19, a Holanda escolhe o genocídio geriátrico.

No pós-2008, a austeridade foi aceite quase incondiconalmente e os apelos a Eurobonds rejeitados peremptoriamente por Schauble e Merkel. Agora, em 2020, a proposta Germano-Holandesa de impor a utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) seria um ato de suicídio político para a UE e a declaração do seu inevitável fim.

Com um nome altamente apetecível, fruto de um bom trabalho de Marketing, o MEE seria o instrumento usado para financiar os países afetados pela crise do COVID-19.

Há apenas um pequeno problema: a utilização do MEE seria um retorno claro às políticas de austeridade. Um eufemismo para a degradação dos direitos dos trabalhadores europeus “privilegiados”, da liberalização dos recursos mais valiosos do Estado e da subjugação dos países ao neoliberalismo económico.

O MEE seria um reaviver do trauma europeu dos “resgastes financeiros” – os empréstimos a taxas de juro punitivas – onde o Norte financiou o Sul, numa relação de mestre e escravo, financiando-se a Alemanha a taxas de juro mais baixas do que as que emprestava ao Sul, tentando converter os católicos devassos ao protestantismo económico.

É nesta altura de verdadeira e inegável crise, em que nos assola um inimigo invisível, que precisamos das Eurobonds (ou Coronabonds). Através da mutualização da dívida – a emissão comum de dívida europeia, emitida por uma única entidade – salvaguardar-se-ão todos os países da UE e permitir-se-à que finalmente, a UE não seja só uma excelente ideia, mas uma União Europeia.

Ao garantir, que nenhum país por mais violentamente que seja atingido, será novamente submetido ao cruel e desumano “tratamento” que foi a austeridade, a União Europeia poderá finalmente redimir-se pela forma tirânica e sádica como lidou com a crise de 2008.

Ao financiar conjuntamente todos os Estados Membros na maior crise em solo europeu desde a Segunda Grande Guerra, protegendo as vidas europeias em vez das bolsas europeias, a UE irá finalmente provar que o sonho de Jacques Delors continua vivo.

Em 2020, ou teremos Eurobonds, ou não teremos UE.

 

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O Notícias de Leiria convidou todos os partidos representados na Assembleia da República para a publicação de um artigo de opinião, da inteira responsabilidade do seu autor.

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