Cultura
José Mário Branco “é respeitado por todos, do hip-hop ao metal” – Omnichord
José Mário Branco morreu esta terça-feira, em Lisboa, aos 77 anos.

José Mário Branco é “a figura mais consensual de sempre da música portuguesa”, sendo respeitado por todo o meio, do hip-hop ao metal, considera o fundador da editora Omnichord, Hugo Ferreira, em declarações à Lusa.
“Não sei se o José Mário Branco foi o músico mais revolucionário de sempre ou o melhor, mas é a figura mais consensual de sempre da música portuguesa. Do hip-hop ao metal, do jazz à música clássica, há um respeito pelo artista”, disse Hugo Ferreira.
Segundo o fundador da editora de Leiria Omnichord, José Mário Branco “faz uma observação, com proposta e resposta, ataque e elogio, de uma forma poética que mais nenhum outro compositor o conseguiu fazer”.
“Quando se lê ou se ouve a música ‘Do Que Um Homem É Capaz’, já estava tudo lá – do que devíamos fazer quando confrontados com esta massagem de ego das redes sociais ou com as empresas que controlam o mundo”, vincou.
Para além da “toda a poética de observação social”, Hugo Ferreira chama a atenção para a música de José Mário Branco, que apesar de parecer simples a quem a ouve, tem “arranjos tremendos”.
“A ‘God Only Knows’ [dos Beach Boys] parece simples, mas na linha de baixo todas as notas que existem estão lá. O Zé Mário tinha essa mesma capacidade de usar a complexidade para fazer o mais simples e harmonioso, e esse dom mais ninguém teve em Portugal”, salientou o responsável da editora Omnichord, que descobriu José Mário Branco já na faculdade, na Rádio Universidade de Coimbra (RUC).
Na altura, José Braga, conhecido melómano da cidade e radialista da RUC, disse-lhe que se tivesse de escolher um disco português seria “o primeiro do Zé Mário”, “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”.
“A partir daí, foi uma obsessão completa. Quando entrei na direção da RUC, o nosso sonho era fazer um concerto com o Zé Mário Branco, ponto. Até podíamos e trouxemos gajos internacionais, mas o sonho seria o Zé Mário”, referiu, contando que, na altura, o ‘cantautor’ estava num “hiato enormíssimo”.
A oportunidade surgiu com o lançamento de “Resistir É Vencer”, tendo conseguido trazer até Coimbra José Mário Branco, em fevereiro de 2003, para um concerto no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), a solo.
“Tínhamos a ideia de que a última vez que tinha tocado o ‘FMI’ tinha sido em Coimbra e todas as semanas passava ao lado de referências à música”, contou Hugo Ferreira, recordando-se das referências aos “Marrazes”, em Leiria, e a uma loja de azulejos perto de Condeixa, na canção presente no “Ser Solidário”.
No dia do concerto, a partir da hora de almoço – altura em que José Mário Branco chegaria a Coimbra – na RUC passou em ‘loop’ o “FMI” até à hora do espetáculo.
“Sabíamos que ele nunca iria tocar o “FMI”, mas, numa decisão à RUC, decidimos passar a música em ‘loop'”, disse, recordando-se de um concerto completamente esgotado, num palco com apenas dois microfones para a voz e guitarra e uma cadeira.
“No final da primeira música, houve uma ovação do tamanho do mundo. Foi um sonho cumprido”, frisou.
José Mário Branco, que morreu esta terça-feira em Lisboa, é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.
