Sociedade
“Negligência e compadrio são a marca do Governo em territórios ardidos” – Bloco de Esquerda
“Quem habita nestes territórios sofre com o abandono da política pública e com a permeabilidade do governo aos grandes interesses económicos”, acusa o Bloco de de Esquerda de Leiria.

A Comissão Coordenadora Distrital de Leiria do Bloco de Esquerda (BE) fez esta segunda-feira um balanço dos seis anos após a primeira vaga de grandes incêndios rurais em 2017, concluindo que o país não se preparou para fazer frente a incêndios desta dimensão.
Num ano em que mais de meio milhão de hectares arderam e uma centena de pessoas perderam a vida, “quem hoje visitar os distritos de Leiria, Coimbra, Viseu ou Castelo Branco encontra territórios e paisagens fortemente marcadas pelas chamas e dominadas por áreas florestais abandonadas e ocupadas por espécies invasoras, das acácias aos eucaliptos, gerando elevadas concentrações de material combustível que potenciam fortemente os riscos de incêndio”, defende o partido.
Para a Comissão bloquista leiriense, coordenada pelo Engenheiro Agrónomo Ricardo Vicente, a situação de perigo é agravada pela “uniformização da paisagem com extensas e contínuas monoculturas florestais de crescimento rápido (eucalipto e pinheiro bravo) associada aos eventos meteorológicos extremos faz escalar fortemente o risco e a perigosidade dos incêndios”.
Uma realidade, aponta o BE, resultado de “muitos anos de negligência dos sucessivos governos, que decidiram apoiar a indústria da celulose, entregando-lhes facilidades e muito dinheiro público, ao mesmo tempo que recusavam apoio aos pequenos agricultores e proprietários florestais da região centro, que eram garantia de fragmentação da paisagem com áreas agricultadas e pela gestão de matos por via da pastorícia e da articulação entre práticas de gestão agrícola e florestal”.
“Até à data, os Governos do Partido Socialista nada mudaram neste panorama”, considera a Comissão Coordenadora Distrital de Leiria do Bloco de Esquerda dando o exemplo da criação da Florestgal, empresa pública sediada em Figueiró dos Vinhos para a recuperação de territórios ardidos, mas que “até à data não se conhece uma única ação de recuperação de áreas ardidas em toda a região do Pinhal Interior que
tenha beneficiado da ação desta entidade”, acrescenta ainda o comunicado.
“Perante a chegada ao país de 10 mil milhões de euros da Política Agrícola Comum destinados aos territórios rurais, entregaram a produção da Avaliação Ambiental Estratégica deste fundo à antiga CELPA, Associação da Indústria Papeleira”, atual Biond – Associação das Bioindústrias de Base Florestal.
Uma Associação que, recorda o Bloco, já teve como diretor geral Francisco Gomes da Silva, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural no XIX Governo Constitucional, de Pedro Passos Coelho, que “criou a famosa ‘lei do eucalipto'”, conclui o partido em comunicado.
Notícia corrigida às 15h47 com o cargo de Francisco Gomes da Silva.
