Sociedade
Novo percurso Polis “vai potenciar conflitos entre pessoas que andam a pé e as que andam de bicicleta” – Federação Portuguesa de Cicloturismo
“Custa-me sempre ver alcatrão junto de zonas ribeirinhas, mas não deixa de ser o piso mais confortável para se circular de bicicleta”, considera Mário Meireles, da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta ao Notícias de Leiria.

As recentes obras de requalificação do percurso Polis, junto ao rio Lis e ainda a decorrer, têm motivado dúvidas, questões e notas de esclarecimento.
Embora a Câmara de Leiria tenha centrado a questão na repavimentação do percurso, há quem tema pela segurança quando a partir de agora o espaço passar a ser dividido entre peões e ciclistas.
Foto: Percurso Polis renovado / NL
Mário Meireles, da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, questionado pelo Notícias de Leiria, não tem dúvidas que o novo desenho “vai potenciar os conflitos entre as pessoas que andam a pé e as que andam de bicicleta”, tendo em conta as dimensões do percurso.
“Demasiado estreita para o que se pretende. A via vai gerar muita procura por lazer, as pessoas a pé, quando assim é, andam a par, ocupando mais de 2 metros. Quando se cruzam, ainda mais espaço ocuparão”, afirma Mário Meireles.
Quanto às dimensões ideais do percurso, “tendo em conta os manuais nacionais e internacionais, mas também o conhecimento de outros casos semelhantes, só a largura total ali existente seria necessária para a parte pedonal, ora para a parte ciclável. Uma pista ciclável unidirecional, com as medidas adequadas, deverá ter 1,5 m de largura. Cidades existem em que as mesmas já estão a ser construídas com o mínimo de 2 metros de largura. Se duplicarmos esta dimensão unidirecional, facilmente percebemos que para a bicicleta eram necessários 3 a 4 metros de largura”, defende o membro da Federação constituída por 1300 associações.
Assim, “pensando que um passeio normal deve ter 1,5 metros, e mesmo assim para se cruzarem duas pessoas ou duas cadeiras de rodas, por vezes é difícil, podemos facilmente perceber que num percurso ribeirinho, com uma procura elevada, a largura terá que ser bastante generosa, pois os fluxos pedonais a ter em conta são elevados. Daí que no mínimo 3 a 4 metros para a parte pedonal seriam, também, necessários”.
Para a organização responsável pelo projeto Lisboa Ciclável, “é complexo criarem-se soluções mistas que funcionem e garantam a segurança de todos os seus utilizadores”.
Ao Diário de Notícias, o vereador Ricardo Santos, responsável pelas obras municipais, explica que os trabalhos acontecem “na sequência da forte degradação do percurso e do mobiliário existente no percurso” e traduzem-se numa pavimentação do Polis, que passará a ter “uma largura para o uso do peão de 2 metros, e uma via ciclável, com dois sentidos na largura sobrante, com 2,5 metros, criando uma separação da via ciclável e da via pedonal sempre que possível”.
Para o vereador, é certo de que “esta intervenção torna também o percurso mais seguro, através da aplicação de tonalidades diferentes no pavimento, de modo a distinguir a parte pedonal da parte ciclável”, afirma ainda ao jornal.
Quanto ao piso, o Município de Leiria assegura que 14 ensaios de permeabilidade de misturas betuminosas ao longo do percurso, de acordo com uma norma europeia, asseguraram “resultados muito favoráveis”.
Para Mário Meireles, da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, “quanto mais permeável for, nestas situações, melhor”, “optando-se por uma solução betuminosa que aumenta o conforto e garante mais alguma permeabilidade”.
Contudo, “custa-me sempre ver alcatrão junto de zonas ribeirinhas, mas não deixa de ser o piso mais confortável para se circular de bicicleta”, conclui em declarações ao Notícias de Leiria.
