Sociedade
“O fogo ainda arde na vida de muitos e todos fomos vítimas”, Dina Duarte – Avipg
Está a ser criado um monumento nacional para honrar as vítimas de incêndios florestais, da autoria do Arquiteto Eduardo Souto Moura.

Na tarde do dia 17 de junho de 2017 eclodiu um incêndio em Escalos Fundeiros, Pedrógão Grande, que viria a matar 66 pessoas, a ferir 253 pessoas, atingindo cerca de 500 casas e 50 empresas.
Três anos depois, o dia 17 de junho é agora Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais em Portugal.
“Há e haverá sempre um sentimento de saudade.”

Foto: Estrada Nacional 236 / NL
Recordando o incêndio florestal mais mortífero de Portugal e da Europa, Dina Duarte, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (Avipg), afirma que “há e haverá sempre um sentimento de saudade, perda e tristeza nos familiares das Vítimas, a que acresce a dor às das Vítimas feridas, que todos os dias são confrontadas com a cicatrizes…”.
“O fogo, como lhe chamamos, ainda arde na vida de muitos e a todos tocou, todos fomos vítimas, tocou a todos em graus diferentes”, segundo a presidente da Avipg ao nosso jornal.

Foto: Memorial às vítimas de 17 de junho 2017 / NL
Um luto que dura há três anos e agora agravado pela pandemia da covid-19 que voltou a distanciar as populações.
“Este luto coletivo tem as suas recaídas, em outubro 2017 foi a maior de todas, este ano a chegada da pandemia isolou-nos ainda mais e confrontou-nos com a iminente perda de saúde, com a falta de rede nas comunicações…”, conta ao Notícias de Leiria, Dina Duarte, da Associação de Vítimas de Pedrógão Grande.
“O fogo faz parte da nossa vida.”
“Há e sempre haverá sentimentos de insegurança para quem vive no meio rural, o fogo faz parte da nossa vida e enquanto as causas do fogo não forem combatidas nem os negócios que ele alimenta se tornarem ruinosos, ele continuará presente”, conclui.
“O tema dos incêndios, as suas causas, dimensões e danos materiais e humanos são a maior preocupação da Associação, a par do apuramento das responsabilidades”. Nádia Piazza, ex presidente da Avipg.

Foto: Placa identificativa Nodeirinho / NL
Numa altura em que, segundo a Associação, os processos de indemnizações aos familiares das vítimas e feridos estão praticamente concluídos, “à justiça cabe o apuramento da verdade e das responsabilidades – esperamos que não tarde! Já passaram três anos”, defende Dina Duarte.
O Conselho para a atribuição de indemnizações às vítimas destes incêndios (e dos de 17 de outubro de 2017) fixou, em final de novembro desse ano, em 70 mil euros o valor mínimo para privação de vida.
As mortes provocadas pelo incêndio levaram o Departamento de Investigação e Ação Penal de Coimbra a abrir um inquérito, que investigou as responsabilidades no fogo com início em Pedrógão Grande. O despacho de pronúncia acusava 13 arguidos.
Na abertura da instrução, o juiz do Tribunal de Leiria decidiu deixar de fora da acusação o comandante distrital de operações de socorro de Leiria à data dos factos, Sérgio Gomes, o segundo comandante distrital, Mário Cerol, e José Graça, então vice-presidente do município de Pedrógão Grande.
Aguardam julgamento os presidentes dos municípios de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande em funções à data dos factos: Fernando Lopes, Jorge Abreu e Valdemar Alves, respetivamente.
O tribunal decidiu ainda levar a julgamento a então engenheira florestal no município de Pedrógão Grande, Margarida Gonçalves; o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut; o subdiretor da área comercial da EDP José Geria; o subdiretor da área de manutenção do Centro da mesma empresa, Casimiro Pedro; e três arguidos com cargos na Ascendi Pinhal Interior: José Revés, António Berardinelli e Rogério Mota.
O Ministério Público de Leiria, para onde transitou o processo, recorreu da decisão, que se encontra neste momento no Tribunal da Relação de Coimbra a aguardar o despacho final.
Também o processo de reconstrução das casas ardidas levou o Ministério Público de Coimbra a abrir um inquérito.
A investigação resultou numa acusação contra 28 arguidos pela alegada prática de 20 crimes de burla, 20 crimes de prevaricação de titular de cargo político, 20 crimes de falsificação de documentos, um crime de falsidade informática e um crime de falsas declarações.
O processo foi para Leiria devido à competência territorial. O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, o ex-vereador Bruno Gomes e o construtor civil João Paiva pediram a abertura da instrução. A juíza entendeu que todos devem ser julgados em tribunal coletivo.
Na Assembleia da República está suspensa a comissão de inquérito sobre a atuação do Governo nos donativos para recuperar as zonas afetadas pelos incêndios, devido à pandemia da covid-19.
“Possamos encerrar esse capítulo na nossa vida coletiva, homenageando as Vítimas dos Incêndios de 2017 com um seu Dia Nacional.”

Foto: Estrada Nacional 236 / NL
“Porque a memória é apenas o que nos resta”, justificou a Associação à Assembleia da República para tornar o dia 17 de junho em dia nacional. “Permita a Assembleia da República que possamos encerrar esse capítulo na nossa vida coletiva, homenageando as Vítimas dos Incêndios de 2017 com um seu Dia Nacional a 17 de junho.”
E para que a memória não se apague, está a ser criado um monumento nacional para honrar as vítimas de incêndios florestais, da autoria do Arquiteto Eduardo Souto Moura.
Num trabalho pro bono, a presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande explica ao Notícias de Leiria que aguardam novas reuniões para debater as especialidades, entretanto atrasadas devido à covid-19.

Foto: Sede Avipg / Facebook Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande
Noutros campos, a Associação de Vítimas, sediada na Casa Paroquial de Vila Facaia, dedica-se a apoiar a saúde mental dos habitantes, por exemplo, através de workshops de meditação e eventos culturais.
Com a colaboração de entidades e mecenas, foram tornados realidade programas e projetos como a Aldeias Resilientes – com a Fundação Calouste Gulbenkian, com a Adai na formação e preparação de outros projetos e Abrigos Coletivos com o mecenas Jorge Mendes.
Recentemente foram entregues a algumas Associações de aldeias, e que envolvam crianças, 17 Mochilas de Emergência.
O incêndio que deflagrou há três anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.
As chamas, que eclodiram pelas 14h00 de 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros, no concelho de Pedrógão Grande, foram extintas passado uma semana (24 de junho).

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