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Obidense Jorge Serrazina perde 10 kilos e tem rutura no duodeno em prova nos Alpes italianos

De regresso a Portugal, com menos 10 quilos, Jorge Serrazina diz estar ótimo, apesar de enfrentar uma recuperação de três meses.

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Jorge Serrazina viveu uma aventura improvável e difícil no Tor des Glaciers, uma prova trilhos de 450 quilómetros em Valle d’Aosta, nos Alpes italianos, segundo avança a Lusa.

Tudo estava planeado para a terceira incursão de Jorge Serrazina, de 63 anos, natural de Óbidos. “Desta vez fui para o Tor des Glaciers, que tem 450 quilómetros, é muito mais duro, sem marcação e com navegação por GPS, numa via diferente, mais selvagem e mais alta. Muitas vezes acima dos 3.000 metros, em zonas inóspitas e com glaciares. Foi aberta a apenas 100 candidatos. Eu e o Diogo Simão fomos os únicos portugueses”, explicou à Lusa o engenheiro agrónomo, residente em Óbidos.

Começou a treinar para a prova em fevereiro, quando subscreveu um seguro de saúde, adaptou a alimentação, planeou a logística e o equipamento, para sobreviver em alta montanha, onde viria a apanhar 12º Celsius negativos, chuva e neve.

Na madrugada de 5 de setembro aterrou em Milão, Itália, mas a bagagem de porão perdeu-se. “Fiquei sem nada. Cheio de mágoa, partilhei o que me estava a acontecer no Facebook e duas horas depois recebi mensagens e telefonemas de amigos a tentarem ajudar”, lembra.

https://www.facebook.com/jorge.serrazina/posts/3402093689815791

Graças à ‘onda’ de solidariedade, Serrazina apresentou-se na partida em Courmayeur, no dia seguinte, com equipamento emprestado de um grupo de franceses, amigos portugueses e de um luso-francês. Sapatilhas, bastões e manta térmica foram adquiridos duas horas antes da prova.

“Foi impressionante, emocionante. Sou um bocado casmurro e, com aquela manifestação de solidariedade, a motivação ficou reforçada. Mas falhou-me uma coisa extremamente importante, a alimentação. Parti com duas barras e uns frutos secos e passei fome, porque nos primeiros refúgios a comida era à base de bolachas, chá e sopa”, assinalou.

Além disso, na primeira noite perdeu a ponta de um dos bastões, “fundamentais numa prova destas com um desnível brutal”, e viu-se obrigado a recorrer a “um pau, nos 60 quilómetros seguintes, para subir duas vezes acima dos 3.000 metros, em trilhos técnicos e extremamente perigosos”.

“Parece que tudo estava destinado a correr mal, o desafio era cada vez maior”, reconheceu Serrazina, cujas lentes de contacto motivaram o percalço seguinte.

“O olho direito ficou inflamado e, como as lentes de reserva estavam na mala que estava desaparecida, só tinha um ‘kit’ com algum líquido, que acabou. Tirei a lente e fiquei só com um olho operacional para usar o GPS. Durante o dia usava óculos de sol para tentar evitar a irritação, mas perdi-os num dos refúgios”, recordou.

Apesar de se sentir “bem fisicamente”, os obstáculos continuavam a surgir entre as “paisagens fabulosas” dos Alpes, onde esteve sempre acompanhado de Diogo Simão.

“A cerca de 250 quilómetros, numa das descidas, senti uma dor no estômago e caí. Continuei, passei numa base de vida, tentei recompor-me e avançámos. No refúgio seguinte, a 2.600 metros de altitude, dormimos e, quando acordei, desatei a vomitar descontroladamente. Disse ao Diogo para continuar e fiquei para trás. Ainda tentei acompanhar um grupo de franceses, mas estava com a vista baça e não via nada. Foi nessa altura que desisti”, referiu.

Em 12 de setembro, com 301 quilómetros percorridos e sem condições para continuar, Jorge Serrazina foi transportado para o Hospital de Valle d’Aosta, onde tratou do problema ocular, fez exames e ficou em observação. Medicado e sem dores, pernoitou no pavilhão de apoio à prova.

“Passei bem a noite, mas no dia seguinte tive dores horríveis na barriga e voltei para o hospital. Uma hora depois estava no bloco operatório, porque tinha uma rotura no duodeno. Tinha um buraco de três milímetros”, revelou o atleta, que ficou internado 10 dias.

De regresso a Portugal, com menos 10 quilos, Jorge Serrazina diz estar ótimo, apesar de enfrentar uma recuperação de três meses, e garante ter feito “301 quilómetros excecionais na companhia de um amigo para a vida”, que teve de abandonar, “quando não sentia dores no corpo e nem uma bolha nos pés tinha”.

Embora tenha aprendido “uma lição para a vida”, o atleta de Óbidos confessou que vai “continuar a ser casmurro”, enquanto se “sentir bem na montanha”, e até prevê o seu regresso às competições no Ultra Trilhos dos Abutres, em janeiro de 2020. Até lá, admite, vai “repensar a pré-inscrição na Mega Race 1.001 quilómetros, a prova mais longa do mundo em linha, que se vai realizar em setembro de 2020”.

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