Sociedade
Ontem, tudo estava bem – Os Espíritos de Inisherin
As interpretações são impressionantes, com destaque para os protagonistas (Farrell e Gleeson), que conseguem transmitir estados de espírito muito complexos em pequenas mudanças na expressão ou no olhar.

Título: Os Espíritos de Inisherin
Realizador: Martin McDonagh
Ano: 2022
Classificação Notícias de Leiria: 9/10 brisas do lis
Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) e Colm Doherty (Brendan Gleeson) vivem numa ilha remota ao largo da costa da Irlanda, onde estabeleceram uma amizade de longa data. Um dia, Colm termina esta relação e deixa de falar com Pádraic, que não compreende, nem aceita, a decisão do amigo.
Pádraic quer reparar a ligação entre ambos e tentar fazer Colm mudar de ideias, com a ajuda da sua irmã Siobhán (Kerry Condon) e de um jovem problemático da aldeia, Dominic Kearney (Barry Keoghan). Infelizmente, as suas investidas não são bem recebidas e, com o intuito de sair deste impasse e de cortar todos os laços de forma definitiva, Colm ameaça tomar atitudes drásticas e macabras.
Martin McDonagh, realizador de Em Bruges (2008), Sete Psicopatas (2012) e do filme vencedor de dois Óscares, Três Cartazes à Beira da Estrada (2017), apresenta-nos uma impressionante metáfora para a guerra civil irlandesa. A construção do conflito, com base num acumular de ressentimentos, injustiças, solidão e desespero, apoia-se num argumento inteligente, na belíssima cinematografia e numa banda sonora envolvente. Em Os Espíritos de Inisherin, é criada uma teia de conceitos e pensamentos e atinge-se uma fluidez e subtileza no decorrer da ação.
Por vezes comovente, por vezes divertida, a longa-metragem não é aborrecida nem por um minuto. As interpretações são impressionantes, com destaque para os protagonistas (Farrell e Gleeson), que conseguem transmitir estados de espírito muito complexos em pequenas mudanças na expressão ou no olhar. A paisagem reflete os sentimentos de desolação e o tumulto interior das personagens, evidenciando a claustrofobia da vivência na ilha, a falta de privacidade e a ausência de oportunidades para progredir, alterar o futuro ou deixar a sua marca na história. Tudo isto intercalado com excelentes momentos de humor, que tornam a realidade dos habitantes da ilha mais leve e fácil de digerir.
Os Espíritos de Inisherin é uma das produções mais aclamadas da temporada, com nove nomeações para os Prémios da Academia, dez para os BAFTA e oito para os Globos de Ouro, vencendo em três categorias.
A longa-metragem, que está agora nos cinemas, foi também galardoada nos festivais internacionais de cinema de Veneza e de Toronto.
