Opinião
Opiniões diferentes: façam-se ouvir!
Num artigo de opinião redutor e simplista, João Carvalho Santos ressuscita os fantoches liberais e põe em causa a pluralidade de opinião.

Devemos todos concordar numa visão muito simples da existência de liberdade de expressão, levando-a até ao essencial que são os órgãos de comunicação, onde informação de qualidade deve elevar-se organicamente através da liberdade do leitor e não pela repressão subjetiva de alguém. Por isso é tão perigosa a veia autoritária de certos opinadores, que fazem uso da liberdade de expressão para pedir que outros se calem. Seria de esperar que, mais do que outra pessoa, um professor entendesse a importância da confiança no sistema de educação e liberdade de pensamento.
Num artigo de opinião redutor e simplista, João Carvalho Santos ressuscita os fantoches liberais e põe em causa a pluralidade de opinião. O professor aponta cinco questões retóricas aos liberais e, apesar de não parecer interessado em conhecer a resposta, não deixarei de desconstruir as falácias desse artigo para quem quiser usar a sua liberdade de ler.
Nós liberais somos – como o nome bem indica – liberais, conceito que não deve ser confundido com libertário. Esta confusão infelizmente ainda domina a cultura portuguesa, presa a dogmas do passado e perpetuada pela ignorância (ou estratégia política) de quem tenta sinonimizar os dois. Acontece que os factos são transparentes e de livre acesso, pelo que a ignorância pertence apenas a quem nela pretender fixar-se.
Simplifiquemos então a explicação: um liberal reconhece a utilidade da autorregulação do mercado livre. No entanto, está longe de achar que se trata de uma panaceia. Existem excelentes exemplos do pensamento liberal em todo o espectro: o setor judicial, por exemplo, é um dos pilares do estado democrático, devendo por isso ser mantido no âmbito público por forma a garantir a sua independência e capacidade de atuação. Setores como a saúde ou educação têm a nível internacional soluções que combinam público e privado com resultados superiores ao nosso. Outros setores, e não há receio em dizê-lo, nunca deveriam ter sido estatizados pelo fardo que colocam nos cidadãos sem que estes vejam qualquer benefício.
A constante deste pensamento é o respeito pela liberdade individual, e o resultado final é um estado mais pequeno. Mais pequeno, não inexistente. Fará sentido criticar o movimento que mais defende a liberdade individual por apelar ao governo que continue a garantir essa liberdade durante uma pandemia mundial?
Se um estado não serve para suportar os seus cidadãos durante tempos difíceis, para que serve? Dizemo-lo claramente: o estado pode – e deve – intervir onde o mercado não dispõe do incentivo necessário que resulte na melhoria da qualidade de vida para todos. Em tudo o resto, o estado deve confiar que cidadãos livres têm capacidade de ser tão bons quanto os melhores.
Ao contrário de João Carvalho Santos não desejem calar ou deixar de ouvir opiniões alheias, especialmente aquelas que vos fazem tremer. Ouvir não é concordar; ouvir é educar e permite a criação de uma visão pluralista e mais realista do mundo que nos rodeia. Não queremos todos isso?
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O Notícias de Leiria convidou todos os partidos representados na Assembleia da República para a publicação de um artigo de opinião, da inteira responsabilidade do seu autor.
