Opinião
Os efeitos da Pandemia nas crianças pequenas
“O uso da máscara impossibilita a criança de ver como articulamos determinados sons, como posicionamos a língua, como movimentamos os lábios”.

Muito se tem especulado sobre os efeitos da Pandemia na sociedade em geral. A verdade é que o nosso estilo de vida mudou completamente em vários aspetos. As exigências do estado de emergência e sucessivos confinamentos trouxeram uma nova realidade para todas as crianças do Mundo, crianças essas que ficaram melhor ou pior resolvidas, consoante a idade e a maturidade de cada uma, o contexto familiar e social e, principalmente, a forma como os adultos à sua volta lidam com a situação. É neste sentido que começam a haver cada vez mais dados que fundamentam tais consequências, como o isolamento social, a dependência de ecrãs, o sedentarismo, problemas de sono…
Falando mais concretamente das crianças pequenas com idades compreendidas até aos 6 anos, também já começam a ser evidentes alguns efeitos desta pandemia e, mais concretamente do uso da máscara. São consequências diferentes das que foram faladas aqui, mas que suscitam também alguma preocupação. Naturalmente, que estas são situações que observo no dia-a-dia da minha prática, enquanto educadora e não têm qualquer fundamentação científica. Assim, a consequência mais evidente e mais fundamentada refere-se à fragilidade do sistema imunológico. Todas as educadoras e pais de crianças até aos 3 anos já devem ter reparado como este verão foi completamente atípico. As crianças estiveram constantemente doentes, com viroses atrás de viroses, principalmente relacionadas com o foro respiratório. Foi um verão particularmente difícil, ao contrário do que era suposto esperar. Isto, porque todas as medidas adotadas durante a pandemia, como o confinamento, o uso da máscara, e desinfeção constante das mãos e dos espaços, fez com que não contactássemos com as habituais bactérias do inverno e início da primavera, fazendo com que estes vírus viessem mais tarde e com uma maior resistência.
Por outro lado, outros efeitos a médio e longo prazo, referem-se à aquisição da linguagem. O uso da máscara impossibilita a criança de ver como articulamos determinados sons, como posicionamos a língua, como movimentamos os lábios ou cerramos os dentes na produção de determinados sons. Nós próprios, agora com as máscaras, não conseguimos muitas vezes perceber o que o outro está a dizer, porque não temos o complemento da leitura labial, não sendo propriamente por a máscara abafar o som.
Nas crianças com 3/ 4 anos, é visível a crescente dificuldade na articulação de determinados sons. Nas crianças de 2/3 anos é visível um “atraso” na verbalização, apesar de terem uma boa compreensão. Resta saber quais serão as consequências dos bebés da pandemia, que não conheceram outra realidade.
A verdade é que o contexto onde as crianças passam a maior parte do tempo acordadas, obriga a que os adultos de referência usem máscara, impossibilitando-as de ter esta informação complementar que ajuda claramente na aquisição da linguagem. Enquanto educadora e estando com idades entre os 12 meses e os 3 anos, sinto muita necessidade de tirar a máscara para que me vejam a falar. É importante que as crianças nos observem a verbalizar todos os sons e que os adultos falem de frente para elas.
Pode ser que esteja enganada, mas nestes próximos anos, cada vez mais crianças terão dificuldades na fala e irão precisar do acompanhamento de terapeutas. Por isso, queridas famílias, falem muito com os vossos bebés. Tenham a preocupação de falar ao nível deles e de frente para eles, para que vos possam observar facilmente, enquanto falam e consigam produzir determinados sons e de forma correta.
