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“Pedi a desfiliação. Até hoje nem uma resposta” – Sérgio Guerreiro, ex-vice presidente Aliança Leiria

“Tudo tem o seu tempo e a imagem de Santana Lopes está gasta. Mas ele anda por aí. É só preciso saber se as pessoas quererão que ele ande por aí”, diz Sérgio Guerreiro.

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Sérgio Guerreiro
Foto: Sérgio Guerreiro, ex-vice presidente Aliança Leiria

Sérgio Guerreiro foi eleito há cerca de um ano para vice-presidente da distrital de Leiria do partido Aliança, quase um ano depois pediu a desfiliação.

Em entrevista ao Notícias de Leiria explica que “No dia que abandonei o cargo pedi a minha desfiliação. Até hoje nem uma resposta mas também não preciso dela para nada”.

Natural do concelho de Porto de Mós, aponta erros internos ao partido e critica o ex-líder Pedro Santana Lopes.

 

Notícias de Leiria: Porque é que decidiu ser vice presidente da distrital de Leiria do Partido Aliança? Que ideias e pessoas o motivaram?

Sérgio Guerreiro: A decisão veio no seguimento da constituição de uma equipa jovem e dinâmica que, na minha expectativa, queria implementar uma abordagem nova na política. Descentralizar reuniões e ouvir as várias pessoas dos mais diversos quadrantes sociais estudando os seus problemas na tentativa de contribuir para soluções. Principalmente ouvir. Na realidade existia vontade e força.

 

Notícias de Leiria: Porque decidiu deixar o cargo? Os motivos prendem-se com a equipa, ideias, organização interna da distrital ou nacional?

Sérgio Guerreiro: Abandonar um cargo não é tarefa fácil, para mais quando se gosta de política pretendendo mudar o panorama no quadro político.

Este trabalho não se faz um dia para o outro. É necessário ter uma estrutura que veja por parte da hierarquia também algum dinamismo. De facto, e após a realização do segundo congresso realizado em Torres Vedras onde por razões pessoais não estive mas que assisti via RTVON, aguardei por um outro caminho mas também logo aí (no congresso em Torres Vedras) em que o atual presidente Paulo Bento nunca assumiu querer ser líder apresentando apenas um documento para debater ideias.

Não assumindo de início ao que se vem com o resultado final que todos sabemos, atrevo-me a dizer, que as jogadas de bastidores na política já não são deste tempo. As pessoas estão mais que fartas de assistir a estas coisas estranhas e a política vai perdendo credibilidade .

Fui aguardando e dando tempo para que a casa fosse arrumada. Tentei sempre sem sucesso, discutir com a liderança que fosse tomada e discutida uma posição sobre o Orçamento de Estado contribuído com um caminho e propostas diferente. Não deixa de ser estranho eu ser ouvido por várias forças políticas sobre este tema, onde tenho por várias vezes escrito sobre ele, e o partido a que pertenço, dizer ‘sim senhor é bonito e tal e coiso mas deixa lá’.

De referir que um Partido Político que não se pronuncia sobre um dos documentos mais importante do País como é o Orçamento de Estado que inevitavelmente influência a vida das pessoas e das empresas, é a mais cabal prova da ausência de massa crítica no Partido. As pessoas têm que conhecer e saber aquilo que se pensa sem medos e sem dogmas. Aparecer nas fotografias com A e B na apresentação de cumprimentos, não diz nada a ninguém a não ser a quem quer aparecer. E as propostas? Estão onde?

Creio que ninguém neste momento dentro do Aliança olhou (ou sabe olhar) para um documento desta importância como é o Orçamento de Estado. É óbvio que a minha saída tem tudo a ver com a liderança nacional e nunca com a equipa da distrital com quem mantenho uma excelente relação deste o início da sua constituição.

E saí a tempo. Com a posição tomada pelo partido relativamente às Presidênciais, que foi, espante-se, não dizer nada não apoiando candidato nenhum, se não tivesse saído em novembro sairía agora.

Não tomar posição nesta matéria é dizer que para o Aliança, assumidamente um Partido de Direita, então tanto faz ganhar Marisa Matias como André Ventura. E sobre este último não me espantará que possa existir uma proximidade política. Ainda veremos alguns daqueles que criticaram a saída de muitos militantes para o Chega, irem agora abanar bandeiras por Ventura. A vida dá cada volta que valha-me Deus.

 

Notícias de Leiria: Como vê o trabalho da Comissão Política Distrital de Leiria da Aliança, liderada por Sónia Conceição?

Sérgio Guerreiro: Estando ausente dos trabalhos da Comissão Política Distrital seria injusto tecer considerandos sobre como tem sido conduzida a atividade do Partido no distrito de Leiria. Mas posso garantir que a presidente Sónia Carreira da Conceicão, e minha colega de quem guardo grandes e boas recordações assim como António Patrício, presidente da Mesa da Assembleia, saberão o que estão a fazer. Se não fizerem mais é porque alguém não os deixa fazer. Se estão contentes ou não com esta direção política nacional é uma questão que só eles poderão responder. O que sinto, mera opinião, é um descontentamento generalizado e assustador de muitas das distritais.

 

Notícias de Leiria: Como viu a saída de Pedro Santana Lopes da liderança do partido? E que características vê no presidente do Aliança Paulo Bento para unir e aumentar a força do partido?

Sérgio Guerreiro: A saída de Santana Lopes peca por tardia. A questão do Partido Aliança e do projeto falhado, foi em grande parte por culpa do próprio. A sua notoriedade atraiu muita gente e uma adoração exacerbada a um líder. Vi, ou notei que ele próprio gosta de ser “adorado”, mas as pessoas tem uma necessidade inexplicável de se juntarem aos “famosos da nossa praça” que de fama têm pouco. Comecei a ver que era muita bajulação junta, coisa que sempre abominei e que nunca entendi.

Não sei ainda hoje se as pessoas que aderiram a este projeto o fizeram por convicções políticas e pelo programa e princípio apresentados se pela pessoa de Santana Lopes que anda sempre por aí. Confesso a minha grande e enorme desilusão ao homem que não gostei mesmo nada de conhecer e os princípios escritos de pouco valem se não forem postos em prática.

O seu instinto político apurado, como escrevia João Marques Almeida num artigo de opinião a 9 de dezembro, já não é o que foi. Tudo tem o seu tempo e a imagem de Santana Lopes está gasta. Mas ele anda por aí. É só preciso saber se as pessoas quererão que ele ande por aí. Creio que não.

Relativamente às características de líder de Paulo Bento não vou simplesmente comentar. O futuro mostrará essas características se ele as tiver da mesma que irá mostrar o seu contrário.

 

Notícias de Leiria: Mantém-se como militante do partido? Exerce algum cargo no partido atualmente?

Sérgio Guerreiro: No dia que abandonei o cargo pedi a minha desfiliação. Até hoje nem uma resposta mas também não preciso dela para nada. Informei por escrito e falei com o presidente. Por agora, não exerço cargo político algum, apesar de ter recebido três convites. Mas estou em ponderação. Estejam descansados que não vou abanar bandeiras a André Ventura. Mas confesso, gostaria de ver o Partido Aliança com gente capaz de discutir os problemas da nação com a apresentação de soluções e de ideias. Até agora não vi nada de concreto e o contributo que diz dar foi totalmente recusado. Quando não estás bem, mudas-te. Mas se se renovar os quadros dirigentes de agora poderei voltar.

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