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Quando chegou a hora de as deixar voar

“Muitas educadoras, têm a sorte de passar 8 horas diárias com os vossos filhos. Os vossos filhos acabam por ser um pouco nossos, ou pelo menos é assim que sentimos”.

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Foto: Opinião de Cláudia Oliveira / DR

Elas chegaram junto de nós pequeninas! Ainda não sabiam andar, nem falar, estavam a aprender a dormir e mal sabiam mastigar ou deglutir…

Muitas educadoras têm a sorte de acompanhar as suas crianças durante anos, conhecendo-as como ninguém e dando-lhes o privilégio de deter informação única, imprescindível para potenciar o seu desenvolvimento de forma mais eficaz e equilibrada. Isto quer dizer que ficamos a conhecer cada recanto deste ser, permitindo-nos distinguir todos os cheiros, sejam os agradáveis que sentimos nas roupas e na carequinha de cada bebé ou até mesmo das próprias fezes. Sim, nós conseguimos identificar o cheiro das fezes de cada criança! Já vos disse que o cheirinho da careca de um bebé é irresistível!? Conhecemos também o ritual de cada uma para adormecer, as manhas nas diferentes fases para comer, as traquinices mais apreciadas, os brinquedos preferidos, os mimos, as músicas, as histórias, o historial clínico, entre outro tanto conhecimento, resultante deste envolvimento único, em todos os momentos do seu dia.

“Os nomes dos nossos filhos são escolhidos em função das experiências que tivemos com cada criança!”

E, quando regressamos a casa? Continuamos a pensar nestas crianças, nos materiais que temos de preparar para as experiências do próximo dia, nas estratégias que podemos usar ou modificar para ajudar a Marisa a ir ao bacio, ou o Bruno a comer a sopa e a experimentar tudo o que tenha mais cor no prato. Por vezes, acordamos a meio da noite para fazer uma nota de um recado que nos esquecemos de dar aos pais ou de uma conquista que nos esquecemos de registar informaticamente, no respetivo portfólio de avaliação. Mais ainda… Os nomes dos nossos filhos são escolhidos em função das experiências que tivemos com cada criança!

A continuidade é de facto uma estratégia mágica que, não só traz vantagens para desenvolver um trabalho pedagógico mais respeitador da criança, como também permite criar um vínculo único. Muitas educadoras, têm a sorte de passar 8 horas diárias com os vossos filhos. Os vossos filhos acabam por ser um pouco nossos, ou pelo menos é assim que sentimos. De tal forma, que quando chegou a hora de os deixar voar, entramos num conflito interior que nos faz duvidar da possibilidade de amar um novo grupo de crianças da mesma forma que amamos este que acabamos de deixar. Este sentimento é único e as educadoras sabem do que eu estou a falar.

“A dor da separação é real para os pais, quando deixam as crianças no início do ano, assim como é para as educadoras quando as deixam no final do ano”.

Com o ano letivo a terminar, muitas educadoras começam a ficar com um aperto no coração, por terem de se despedir das suas crianças, das suas famílias. Não tenham dúvidas! A dor da separação é real para os pais, quando deixam as crianças no início do ano, assim como é para as educadoras quando as deixam no final do ano.

A pandemia veio-nos roubar o envolvimento e um contacto mais próximo de todas as famílias, mas ainda assim, muitas vezes, são as “nossas” famílias, durante anos. As famílias, com quem partilhamos momentos únicos, repletos de emoção e que nos ficam para sempre na memória. É com elas que partilhamos angústias sobre os seus maiores tesouros, com quem partilhamos estratégias para que estas crianças tenham um desenvolvimento equilibrado e para que sejam felizes, com quem partilhamos a alegria das conquistas e a angústia das fases mais desafiantes da criança.

A tranquilidade vem atenuar o aperto no coração, quando refletimos sobre estes primeiros anos destas crianças e percebemos que demos tudo para que fossem felizes e para que criassem memórias inesquecíveis. Memórias que irão definir o adulto do futuro, com toda a certeza, e acreditar que, tal como Marva Collins refere, “Uma vez que a criança aprende a aprender, nada pode estreitar a sua mente”.

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