Opinião
Quem nos leva o pensamento?
Quantos de nós antecipam cenários em jeito de hobbie quais adivinhos de um amanhã que pode nunca chegar?

O pensamento é, talvez, a competência humana de que mais nos orgulhamos… Permite-nos elaborar, conhecer e até sentir de formas diferentes! É também pelo pensamento que, no seu esplendor criativo, chegam a nós as histórias mais mirabolantes acerca de nós mesmos, dos outros, do mundo e do olhar destes sobre nós. Nessas situações e, principalmente quando as histórias são negativas, podemos tornar-nos prisioneiros do próprio pensamento e de tudo o que nos conta a nossa mente. E aí? Quem nos leva o pensamento? Não pensar, parece um desafio constante e nada justo, na nossa condição… Seria mais fácil de pudéssemos, de facto, não pensar… Opção indisponível! Porém, escolher o que fazer com o que pensamos… será uma opção? Quantos de nós antecipam cenários em jeito de hobbie quais adivinhos de um amanhã que pode nunca chegar? Mãos no ar! Certamente já todos nos deparámos também com a imprevisibilidade do futuro, tão distante da nossa imaginação tão fértil! Serão então pensamentos factos reais? Pois, concordemos que não… nem sempre. Sendo os pensamentos apenas pensamentos, aceitá-los como são parece devolver-nos algum poder… Não posso evitar o pensamento mas posso mudar a forma como me relaciono com ele e ISSO é uma escolha minha, consciente e treinável!
O cérebro humano, por activação de um mecanismo de protecção natural, tende a antecipar cenários, na ilusão de controlo que isso lhe devolve. Sendo plástico, alimenta-se de um enviesamento negativo desenvolvido em prol da sua sobrevivência. Na verdade, não reconhecendo uma linearidade na relação entre o pensamento e o que, de facto, nos acontece, deixar ir o que não nos pertence, aceitando o pensamento como automático e reflexo de um conjunto de predisposições e precipitantes como as nossas vivências prévias, será, no limite,
reorganizador. Quando o mesmo não é possível, pela sua força e persistência, aceitar com curiosidade as sensações que cada pensamento ativa em nós, validando-as, parece convidar-nos à reflexão, minimizando a força do pensamento negativo.
Falamos na capacidade de treinarmos e desenvolvermos funções cognitivas e executivas, estimulando o processo de metacognição com curiosidade e compaixão, permitindo a diminuição de julgamentos prévios e alimentando o suporte no momento presente. Onde vamos é o lugar onde estamos, porque não somos exatamente o que pensamos, porque pensamentos são só pensamentos, não traduzem a realidade!
Carolina Costa é mestre em psicologia clínica, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
