Sociedade
Reportagem: Covid-19 deixa ruas, jardins e lojas vazias em Leiria
“O movimento diminuiu drasticamente nos últimos dois dias. Isto está a ficar às moscas,” lamentou uma lojista dos Jardins do Lis Galerias.

Azar ou não, foi a partir da passada “sexta feira 13”, que se começaram a sentir em Leiria os efeitos das recomendações de isolamento voluntário, devido à doença Covid-19, já anunciada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Este fim de semana, o Notícias de Leiria passou por shoppings, esplanadas e ruas da cidade, respeitando as recomendações da Direção Geral da Saúde (DGS), e ouviu desabafos de quem os habita.
“O governo vai ter que nos ajudar.”
“Isto é muito mau, e tem um efeito de bola de neve. O governo vai ter que nos ajudar”, desabafou o empregado de uma gelataria do LeiriaShopping, no sábado, perto do final da hora de almoço, acompanhado de três empregadas.
“Isto está às moscas,” referiu o senhor, com um semblante carregado, a olhar preocupado para o espaço de restauração praticamente vazio e onde em dias normais é um corrupio de gente a almoçar.

Foto: Facebook LeiriaShopping
Saindo do parque do shopping com muitos lugares vagos, em direção a Leiria, passamos pelo IC2, quase vazio de trânsito. Encontramos as esplanadas dos Jardins do Lis Galerias, junto ao rio no Marachão, no Arrabalde da Ponte, com poucas cadeiras e também quase desertas de gente.
“Agora estamos sempre com máscara.”
“O isolamento é um resguardo em casa, de prevenção, e à porta fechada,” disse a cabeleireira Odina Gaspar, de 47 anos, de Leiria. “Por vezes usamos máscara, mas agora estamos sempre com máscara,” avançou Odina, ao Notícias de Leiria, a trabalhar com uma máscara verde na cara, com duas colegas, num cabeleireiro, no Jardins do Lis Galerias.
“O movimento diminuiu drasticamente nos últimos dois dias. Isto está a ficar às moscas,” lamentou, ali ao lado, Ana Mora, de 23 anos, de Leiria, a trabalhar numa das lojas do centro comercial.
“Não sei se nós aqui vamos fechar, o meu patrão ainda não nos disse nada.”
Sobre o isolamento, a empregada de balcão, disse ainda que “temos de trabalhar todos em conjunto e cumprir com as regras de higiene. Não sei se nós aqui vamos fechar, o meu patrão ainda não nos disse nada,” apontou Ana Mora. “Vamos ter o cuidado de ter o balcão sempre limpo para não haver transmissão do coronavírus” reforçou.
“Temos que respeitar as indicações. Sou empregada, não sei se o café vai fechar, isso é com o meu patrão” afirmou Paula Antunes, de 54 anos, a servir ao balcão num café, algumas dezenas de metros abaixo do Museu de Leiria.
“A minha vida é trabalho casa, casa trabalho.”
Já na tarde de domingo, no interior do pequeno café, na altura com meia dúzia de clientes, a televisão e as conversas, eram sobre a quarentena e o novo coronavírus. “Se vou ficar em casa? A minha vida já é trabalhar casa. A minha vida é trabalho casa, casa trabalho” reforçou Paula Antunes ao Notícias de Leiria.
Muito poucas pessoas, poucos carros, a Rodoviária Nacional aberta, mas sem sinais de movimentação de camionetas e dois taxistas de máscara verde no queixo, à conversa com dois clientes, no Largo Papa Paulo VI, foram os raros sinais de vida que encontrámos, no percurso entre a Ponte dos Caniços, do lado norte da cidade e o Arrabalde da Ponte, do lado sul.

Foto: Pedro Carvalheiro
“Adiado” dizem os cartazes que anunciam os próximos espetáculos, colocados no 1º piso do teatro, virados para a Avenida Heróis de Angola, no Teatro José Lúcio da Silva. No percurso, o café junto à Ponte Hintze Ribeiro, na zona do Museu, foi o único estabelecimento que encontrámos aberto.
Já na rotunda do sinaleiro, ao fim da tarde de domingo, e na estrada que contorna o jardim Luís de Camões, o movimento automóvel era muito pouco. Passava mais de um minuto em que não circulava um só carro. Ali ao lado, no percurso Polis, junto ao rio, que entrou recentemente em obras na parte norte, até à ponte do antigo Hospital de Leiria, encontram-se poucos desportistas a pé ou de bicicleta.

Foto: Pedro Carvalheiro
Nas ruas da cidade não se veem polícias. Os parques infantis estavam vazios. Também na zona do Centro Comercial Maringá, as esplanadas estavam fechadas. O largo parque de estacionamento, junto ao rio, habitualmente cheio, a esta hora, estava quase vazio.
O ambiente, no centro da cidade é de quase ausência de movimentação de pessoas. Ainda na zona baixa da cidade, agora muito mais silenciosa e deserta, o silêncio foi a resposta de um homem com quem tentámos falar, que sozinho e aparentemente assustado, não parou, atravessando o parque em direção à ponte pedonal para o lado norte de Leiria.
Nas redes sociais, circulam anúncios de fecho de bares, restaurantes, ou com funcionamento restrito, e apelos a que se entre em quarentena, já anunciada pelo governo e pedida pelos portugueses, a partir do início desta semana, devido ao coronavírus.
