Sociedade
Reportagem: “O Dia da Mulher é todos os dias, deve de ser todos os dias”
Para as vereadoras Ana Valentim, Anabela Graça, Catarina Louro e Rita Coutinho a comemoração do Dia Internacional da Mulher constitui um momento de sinalização da responsabilidade que todos devemos assumir na construção de uma sociedade verdadeiramente igual.

Num fim de semana marcado pelo Dia da Mulher, 8 de março, o Notícias de Leiria andou pelos parques de Leiria, ouviu as mulheres e visitou o Museu da cidade do Lis, com a exposição “Mulheres de Leiria”, orientada pelo arquiteto António Moreira de Figueiredo.
“Só se lembram das mulheres neste dia. As mulheres são faladas pela violência doméstica e pelos maus tratos nos lares e agora até pelo coronavírus.” Junto à margem do rio Lis, no caminho do Marachão, a passear o filho no carrinho de bebé, Mafalda Martins, de 20 anos, de Leiria, desabafou sem hesitações ao Notícias de Leiria.
“Metade das minhas amigas, juntam-se vão almoçar fora neste dia e deixam os namorados em casa” adiantou a jovem mãe. “Ser mulher são vários papeis: mãe, mulher, doméstica, trabalhadora, tomar conta dos filhos. São tarefas de todos os dias,” disse ali perto, Madalena Santos, de 39 anos, também de Leiria.
Para Madalena, “o Dia da Mulher é um dia simbólico pela exposição social da mulher, pela igualdade em relação ao homem.” “Nunca comemorei, nem comemoro, é um dia igual aos outros. É só consumismo.”
A passear com o marido, uma mulher de 73 anos, que preferiu não se identificar, avançou ainda que “recebi um ramo de flores quando trabalhava num restaurante.”

Foto: Emília Santos | Pedro Carvalheiro
“Este dia não me diz nada. O Dia da Mulher é todos os dias, deve de ser todos os dias.” Para Emília Santos, de 79 anos de Leiria, “agora há violência doméstica, porque as mulheres abusam da liberdade. Nunca o festejei. Antigamente não havia o dia da mulher, neste dia faço a minha vida do costume,” reforçou Emília Santos.
Museu de Leiria recebe exposição “Mulheres de Leiria”
“A nossa sociedade tem que agir. Todos nós temos responsabilidade em lutar por uma sociedade mais justa”. No início da visita guiada, pelas 16h de domingo, na sala da receção do Museu de Leiria, o arquiteto António Moreira de Figueiredo, disse às cerca de duas dezenas de visitantes, entre as quais, quatro das seis mulheres vereadoras que compõem a Câmara Municipal de Leiria.
O arquiteto ainda realçou o facto de na autarquia leiriense, entre onze vereadores, seis serem mulheres.

Foto: Vereadoras CML Ana Valentim, Anabela Graça, Catarina Louro e Rita Coutinho | Município de Leiria
Na visita, pelas salas do Museu, Helena Carvalhão, mulher leiriense, falecida em 2018, foi a primeira a ser referida, pelo “papel importante como professora”, e por ter sido a primeira mulher a exercer cargos políticos. “Este dia não devia de existir” lembrou António Figueiredo, as palavras de Júlio Machado Vaz no programa na rádio “O amor é.” “Este dia ficou ligado à revolução Russa em 1917. Fazem sentido outros dias como o 25 de novembro, o Dia Internacional do Combate à Violência Contra a Mulher” apontou.

Foto: António Figueiredo | Pedro Carvalheiro
Na sessão, foram também lembradas as “Tis”, mulheres que davam nome às tabernas de Leiria, como a “Ti Gracinda” e a “Ti Maria do Mendes.”
Também “Ana do Inferno”, foi lembrada porque tinha uma taberna onde havia reuniões clandestinas e quando aparecia alguém escondia os clientes num alçapão. Dizia-se que “mandava-os para o inferno.”
Mulheres, segundo António Figueiredo, lembradas por Joaquim Vieira, o leiriense que colecionava memórias.
Sobre a toponímia de Leiria, foram lembradas, Natália Correia, Madre Teresa de Calcutá e Maria Clara do Menino Jesus, que tem o nome na rua que fica atrás do Colégio Conciliar Maria Imaculada, que ajudou a fundar, na Cruz da Areia e Laura Charters Lopes Vieira, que morreu há um século.
Mécia Mouzinho de Albuquerque, “monárquica até ao tutano e eximia nas letras” iniciou nos anos trinta do século passado a luta contra o cancro.
Também Emília da Silva Carvalho, a parteira de Leiria que “levava o enxoval aos meninos pobres,” A Ti Maria dos Cabritos que vendia cabritos na praça Humberto Delgado, e se destacava pelo “sentido popular nas suas atitudes.”
Carolina Beatriz Ângelo a 1ªa mulher que votou em Portugal, no início do século XX. Adelaide Félix, de Santa Catarina da Serra, que ficou ligada ao Pedrógão, onde tem o nome numa rua, foi lembrada pelo seu percurso nas letras e pela conferência que fez, em 1944, sobre escritores de Leiria.
